quinta-feira, 20 de maio de 2010

Da assessoria de imprensa

Voltando. Voltando. Depois de ter me exilado em três projetos. Depois de ter dormido três horas por dia nas últimas três semanas. Voltando à vida, essa que me parecia tão distante nos últimos meses. 

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Voltando reclamando, que começo a achar que é o que faço melhor. 

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Situação: você está escrevendo uma matéria para o El País. Não é jornal da esquina, nem a revista customizada de uma marca X. Você precisa de fotos. Fotos grandes, porque vão abrir gigantonas na páginas. Você liga para as assessorias de imprensa. Você menciona o que precisa, diz que se vier uma foto boa há boas possibilidades de entrar grandão. Você é uma cara camarada e ainda dá dicas de como eles gostam da foto. No caso: não adianta mandar foto do restaurante sem gente. Simplesmente NÃO ADIANTA. Eles não dão foto de mesa vazia com pratos e copos à espera de alguém que não está ali. Eles não querem dicas de decoração de restaurantes, eles querem GENTE. Você diz: a matéria foi adiantada, então já manda em alta, senão corremos o risco de não dar tempo.

Resultado: chegam fotos sem uma viva alma. Chegam fotos em baixa. Chegam fotos que não daria para publicar nem no jornal da esquina, nem da customizada da Marabraz. Que parte não entenderam, me pergunto?

Se fosse eu: trabalhei um tempinho mínimo em assessoria. Foi meu primeiro emprego fora universidade. Mas nos três meses que fiquei na Del Mondo, em Floripa, aprendi muito com a Sílvia Zamboni. Lembrei muito dela nesse caso. Aposto - na verdade tenho certeza - que ela ligaria os fatos: El País + reportagem + se vem foto boa tem boa chance de destaque. E moveria o mundo em menos de três horas para conseguir a melhor foto de todas, caso já não a tivesse. Chamaria um fotógrafo, reuniria os amigos no restaurante para ter gente, criaria o ambiente e mandaria tudo no prazo, e lindo. Quanto é a saída simples de um fotógrafo? Chega a R$ 300? Não vale gastar R$ 300 para fazer, afinal, o que se é pago para fazer: divulgar o lugar? Eu gastaria. Ela gastaria. Porque os R$ 300 iriam virar, R$ 5.000 se contar o espaço X preço de anúncio. 

Mais sobre a Sílvia: como disse, lembrei muito daquela época e do que aprendi em pouco tempo. Lembro de uma vez que ela estava numa reunião com um novo cliente. E eu, estagiário, ouvindo tudo de orelhada. Ela pergunta para o cliente: "Onde você quer chegar com nossa ajuda". E o cara, dono de uma construtora mais ou menos pequena, sem chances de render reportagens de lá muito brilho, tasca: "No Jornal Nacional". Fodeu, pensei.  Com  base no que os caras queriam ela fazia os planos de assessoria - e os custos, claro. Nem três meses depois, o cara estava no Jornal Nacional. Lembro também de que eu, estagiário, fiz uma mezzo cagada numa nota para o Cacau, aquele. Para os outros, os de fora, ela me defendeu bravamente e assumiu o NOSSO erro. Ali, dentro da agência, levei uma carcada. Mas ficou a dica que procuro levar sempre: não use seu subordinado de escudo. Se ele errou, o erro é seu também. Afinal, você é o chefe para isso. 

Finalizando:  talvez você tenha se perguntado: mas porque o El País não mandou então fazer a foto? Porque então ele não gastou os tais 300 pilas? Vale jogar a culpa nas assessorias? Respondo só uma: sim, vale. Esse é o trabalho delas. Não tem bom material de divulgação dos seus clientes? Erro seu. É mais ou menos como Ronaldo chegar na Copa gordo. Não cumpriu seu trabalho direito. Ponto. As outras respostas? São assunto para outro post que esse já está grande...