Fui convocado pelo Maurício Oliveira, do
Vida de Frila, a responder cinco coisas que não sou e gostaria de ser. Vamos lá:
1 - Organizado por natureza: não tem jeito, já tentei lutar contra, mas não dá. De seis em seis meses faço listas de coisas para resolver: e as perco. Todo ano compro uma agenda: e uso metade de janeiro. Meus contatos estão distribuídos em post-its colados em todos os cantos. Minhas fontes estão espalhadas em bloquinhos mil empilhados, sem ordem, não sei aonde. Para achar um telefone de um amigo tenho que dar um gmail search com a palavra tel. + contato + nome da pessoa, porque, invariavelmente, já pedi a ele o telefone para entrar em contato e, claro, não anotei na agenda. Agenda? Ha-ha-ha.
2 - Magro por natureza: quem foi criado à base de embutidos, nata, requeijão, frituras em banha de porco, geléias, tortas e mais tortas paga o preço por isso. Só para se ter uma idéia, nosso "lanchinho" das 10 horas - entre o café e o almoço fartos - quando criança era: uma salsicha, uma fatia de pão caseiro com geléia e nata, um - ou meio - ovo e um café ou achocolatado para rebater. Deu no que deu. Some-se esta cabeça gorda + herança genética + preguiça eterna, e é uma vida lutando contra a balança. Um brigadeiro vai diretamente para o tecido adiposo. Um pastel vai, sem escalas, para a bóia eterna que circunda meu abdomen... Pior que tento me enganar: meu principal esporte é inscrever-me em academias. Academia? Ha-ha-ha.
3 - Inteligente por natureza: sabe aquelas pessoas que lêem qualquer coisa e quardam na cachola? Invejo. Invejo muito. Sempre fui CDF por pura falta de inteligência natural. Tinha que ler mil vezes, escrever, repetir em voz alta para fixar - por alguns dias, ainda por cima. E sigo assim. Entrevistas têm que ser anotadas tim tim por tim tim porque saiu da sala me esqueço da metade. Lendo um livro tenho que voltar mil e tantas vezes para lembrar com exatidão dos personagens (Cem Anos de Solidão foi um parto). Mergulhar em um tema é difícil porque lá pela quinta braçada tenho que voltar para a largada. Ser como o Capote, que não anotava nada, mas lembrava de tudo? Ha-ha-ha.
4 - Rico por natureza: simplesmente adoro aquelas matérias das revistas-quero-ser-alternativo-descolado-easygoing que contam a saga do empresário-que-largou-emprego-numa-multinacional-e-vive-de-surfe. E segue-se o texto do carinha de nem trinta anos que trabalhava na Nokia ou similar e hoje viaja o mundo vivendo num casebre de palha onde tem "altos picos", faz pranchas, come peixe pescado na hora e essas coisas naturebas-ripongas-uhu! mais. Lá no meio ele conta quando viajou para Paris aos sete, para a China aos treze, que se descobriu no Havaí aos 15 e por isso decidiu largar tudo para morar no Taiti. Ahã. Largou tudo menos o sobrenome de três ou quatro palavras, a herança quatrocentona, a mesada que chega na conta. Largar tudo sem ser rico por natureza? Ha-ha-ha.
5 - Europeu por natureza: ok, ok, essa força a barra. Mas nesse momento, tendo que fechar à distância uma revista porque não consigo o visto, sim, queria ser europeu por natureza - ainda que esteja com a veia latino-americana mais forte do que nunca. Sem ha-ha-ha nessa.