domingo, 12 de outubro de 2008

Diário visual

Sempre levava um diário de viagem. E a história se repetia. No meio eu me cansava de escrever ou escrevia por obrigação de escrever. Desta vez decidi fazer um sketchbook, ou seja, um diário visual. Não, não sei desenhar, tenho bem claro isso. Por isso trabalhei mais com simbologias, com detalhes, com imagens que me vinham à cabeça. Abaixo, algumas páginas. Não é para tentar entender. Algumas são impressões muitos pessoais do que a cidade representava.


Veneza - Itália


Praga - República Tcheca


Amsterdam - Holanda


Viena - Áustria


Florença - Itália

sábado, 11 de outubro de 2008

Da arte de dormir em ferry boat

O bilhete comprado dizia: DECK. Era o mais barato, óbvio. Confesso que a idéia de dormir ao relento no deque de um ferry boat dava orgulho ao meu sangue mochileiro. Bah! Não sou um turista pijo que compra cabine ou os tais "airport seat". Somos mochileiros, pô! Qué venga el deck! Ancona (Itália) - Patras (Grécia). 25 horas de viagem. Nossa estréia em ferry boat. Marinheiros de primeira viagem, entramos no monstro de lata e seguimos as ordens dos guardinhas do navio que nos olhavam com cara de nojo e mandavam subir e subir e subir os seis andares, passar pelos corredores acarpetados, vislumbrar os bares e restaurantes pelo caminho até abrir uma porta e sentir o vento na cara e o cheiro de óleo queimado: eis o deque. A cena é insólita. Mochileiros de todas as estipes correndo contra o tempo para estender seu saco de dormir no canto que vai chamar de seu - e ninguém tasca! - nas próximas 25 horas. A regra é "reservar" seu espaço, de preferência onde haja uma "cobertura" qualquer. Vai que chove no meio da noite? Encontramos um banco de madeira em forma de meia lua, embaixo de um teto, com vista para a piscina: é nosso! Estávamos crentes que éramos os reis supremos do deque, os melhores, os mais espertos. Nossa ilusão durou mais ou menos uma hora, quando decidimos que o lugar estava assegurado contra okupas e podíamos circular pelo navio. Quando entramos, vimos o quão principiantes éramos. Todos os corredores internos estavam lotados de mochileiros "profissionais". Sim, eles sabiam que a regra é a seguinte: quem tem o bilhete DECK pode dormir em qualquer lugar, qualquer mesmo, desde que não atravanque o caminho. Vale corredor, vale debaixo da escada, valem os confortáveis sofás do restaurante ou do bar. É um vale tudo. Dentro faz um frio de lascar, mas está livre do cheiro de óleo, das mudanças climáticas repentinas e do barulho do motor. Bueno, vencidos pela preguiça de desfazer nosso cafofo no teto do navio, ficamos por lá. Nem foi tão mal quanto prevíamos. Mesmo os pobres podem defrutar do bar, da boate, do restaurante, das lojinhas, do cassino, do banheiro com água quente, das TVs, da piscina. Como niños perdidos em uma loja de briquedos, nem sentimos as 25 horas. Ok, ok, a noite foi meio dura com o vento açoitando a cara, com a porta se abrindo e trazendo a brisa de freezer do interior do navio, com a família de sérvios (PS.: I hate Sérvia, de onde fui deportado) tomando todas do nosso lado, com o colchão de madeira, tendo que se equilibrar em um banco com uns 50 centímetros de largura... Mas, enfim, podia riscar da caderneta de "coisas para fazer antes de morrer" o tópico "dormir do deque de um navio". Abaixo, umas fotos deste e de outros deques da mesma viagem (sim, foram 5 ferrys no total).

Os "reis do deque" no ferry entre Ancona (Itália) e Patras (Grécia). Marinheiros de primeira viagem, nem sabíamos o paraíso mochileiro que se escondia nos corredores internos.


Esse era trash! Entre Atenas e Santorini, na Grécia. Cheiro de óleo queimado e esses bancos FDP para dormir. Não, nesse ferry não rolava compartimento interno. Mas a viagem durava apenas umas doze horas.


Agora, sim, eu já era um profissional! No ferry entre Santorini e Atenas descolei essa suíte de luxo, num corredor "sem saída" do lado da escada. Ah! Detalhe para o acessório imprescindível: máscara de dormir. No início meus amigos tiravam sarro, no final da viagem todos tinham a sua.


No mesmo ferry (Santorini-Atenas), a ala feminina. No canto esquerdo Maria, uma brasileira que encontramos por lá. No canto direito Vanessa, mexicana com quem eu estava viajando. No meio as duas gregas que já estavam acampandas ali quando chegamos.


O ferry mais "luxo", entre Patras (Grécia) e Bari (Itália), com direito a vidros que barravam o vento. Porém, como era um ferry super novo, já estava adaptado com um design "anti-pobres-mochileiros". Simplesmente não tinha corredor onde dormir sem atrapalhar o trânsito! Mesmo assim era clean, perfeito, silencioso, praticamente vazio... até.... as duas da manhã, quando parou em um porto e entraram dezenas e dezenas de famílias do leste europeu e dominaram todo o deque com seus jogos de cartas, tupewares de pepino, crianças berrentas, roncos e afins.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Saudade

Saudade no fundo é bom. É bom porque nos faz lembrar constantemente de quem mesmo longe está perto da gente. Perto na memória, perto no coração. É bom porque saudade vem com recuerdos e nunca são lembranças ruins. Sempre são acontecimentos, imagens, cheiros e sensações que marcaram. Saudade pode ter cheiro de café. Pode ter textura de cobertor (ah! aquela manta carcomida cor de amarelo ovo, o bom e velho frugui-frugui). Pode ser a visão da manteiga derretendo em um pão de aipim. Pode ser o recuerdo de uma lágrima vertida dentro de um ônibus rumo a Curitiba numa madrugada bajo cero na rodoviária de Caçador. Saudade é a prova mais fiel de que amamos. Pais, irmãos e amigos.

Abaixo, duas fotos de coisas que me despertaram saudade em Dresden, Alemanha, já explico porque:

Bolo de requeijão. A especialidade da Dona Lisette, minha mãe. Nem na Alemanha fazem um tão bom quanto o seu.


E não é que tinha um bar com o nome da cidade onde nasci?