terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A musa

E já que hoje é o dia das fotos, a musa do blog: La Terrazita

Vitrine

Ainda da viagem de Salamanca, a foto vencedora para a vitrine.


Salamanca/fev. 2008

PS.

Agora, sim, as postagens estão com data e hora certas. Para que não digam que tenho tempo ou falta de vergonha na cara de postar no meio da tarde...

A arte de compartir

Compartir em português é um verbo usado pouco no dia a dia. As campanhas da igreja, de ONGs e afins falam muito em compartir. Sempre me parece que está ligado a ceder ao outro o que nos sobra, ou a sobra. Na "vida real" falamos mais em dividir. Em espanhol, comparte-se muito. O apartamento, o prato para duas pessoas, a mesa de trabalho. E, pensando bem - e nessas semanas tenho pensado muito -, é tão mais, digamos, generoso, usar o compartir. Dividir agora soa para mim: "isso é meu e aquilo é seu". Compartir seria: "isso é nosso". Bueno, decidi compartir esta viagem momentânea com quem lê.

A importância de ter amigos

É engraçado a diferença que faz enfrentar uma situação adversa estando em um grupo. Quando fui para São Paulo, creio que tudo seria tão mais difícil se não fosse a turma do Curso Abril enfrentando a mesma batalha junto. As festas, as conversas, os chororôs comunitários, o almoço numa mesa gigante. Tudo ajuda a amenizar a pressão de estar num ambiente desconhecido. Chegamos a esquecer o quão difícil poderia ser viver aquilo tudo sozinho. Quando fui para o Recife, solito que só, quantas vezes nos primeiros meses clamava por um ombro, alguém para fazer piadas, sentar numa mesa de bar ou simplesmente contar como foi o dia. Só passei a viver, mesmo, a cidade, depois de encontrar por lá grandes amigos. Mas o início foi difícil. Em Madri, tenho a sorte de fazer parte de um grupo, os Balboas. E agora lembro de outro fenômeno. Como pessoas que nunca se viram na vida - no caso do Curso Abril de estados diferentes, e aqui, de países diversos - convertem-se em amigos em poucos dias? Creio que a vontade de criar esta couraça que nos protege do desconhecido pode ser a resposta à questão.

Abaixo, apresento meus novos amigos:


Uma noite de "marcha"

Da série coisas curiosas...

... a máquina de cigarros. Parece máquina de doces para crianças. Em alguns lugares tem que pedir para liberarem o trambolho por controle remoto, para evitar que menores de 18 anos comprem. Bueno, eu espero parar, porque faz mal e porque cada maço custa 3 euros! Mas não agora, ok? A proposta é: quando encontrar a Erikinha em Paris e formos a um daqueles cafés clássicos, numa manhã invernal de sol, jornal ou livro para ler, fumamos juntos nossos últimos cigarros. Tem que ser algo clássico, não?


A tal máquina

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Ok. Agora já tenho o que falar

Post censurado depois de um puxão de orelha bem dado, com razão.

Previsão do tempo

La Terrazita tem passado um tempo sola depois que o trabalho começou. Faz frio e chove - quem disse que nunca chovia em Madrid está bem enganado. Tempo estável dentro da Terrazita, com todos se encaminhando, se acostumando, entrando numa rotina - como é fácil entrar numa rotina, espero apenas não cair na rotina. Estamos, eu e Los Diegos, planejando a inauguração oficial do pedaço. Esperamos que chegue logo a primavera e o verão, quando, prevejo, La Terrazita será o lugar mais disputado pelos Balboas, amigos e afins.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O mistério das calorias

Em tudo vai batata, geralmente frita ou bem oleosa. Em tudo vai ovo, muitas vezes frito. O jamón tem uma capa de gordura. Em tudo vai jamón e há mil variedades. Queijo vai quase em tudo. Os churros pingam, literalmente, gordura. O chocolate quente é tão grosso que quase se corta - e não tem xícara pequena, só a grande, gigante. O pão vai à mesa sempre, em profusão, chegando ao cúmulo de um tipo de tapa ser um croquete frito sobre uma fatia de pão e de haver bocadillo de tortilla, ou seja, um sanduíche recheado com uma espécie de panqueca de batata: cúmulo da festa de carboidratos. Porém, os espanhóis são magros. Para onde vão as calorias? O que eles fazem? Comer eles comem muito, tanto que em alguns lugares - jornais, inclusive - o horário para o almoço é de três horas, com direito a entrada, prato principal, sobremesa, caña (no meio do dia, sim) e café. Isso é um mistério.

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Adendo 1: me pesei hoje pela primeria vez. Um quilo a menos que em SP. Como pode? Estou assumindo o padrão come-não-engorda dos espanhóis ou a tensão da primeira semana me tirou alguns quilos que agora estou recuperado? Mais um mistério.

Adendo 2: estar abaixo do peso que eu achava que estaria me dá uns dias a mais para não começar a correr no parque pela manhã, a uns 5 graus. Semana que vem eu começo.

Não falei que era cedo?

Hoje já foi bem melhor. Até tenho pauta e uma coletiva de imprensa para ir. Mas esperemos mais para não fazer julgamentos precipitados.

Melhor deixar para outra hora...

... antes de tirar conclusões precipitadas sobre o primeiro dia de trabalho...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sonhos e realidade

É engraçado quando um sonho se torna realidade. Sem desmerecer o sonho, mas quando estamos prestes a concretizá-lo parece que eles perde um pouco a força de SONHO, assim, mesmo, em maiúsculas. Tenho me lembrado muito das tradicionais conversas matinais com a grande Robs no fumódromo. Eu fumante, ela não, fazíamos uma sessão descarrego antes de empezar a labuta. Frustações, inquietações, desejos e sonhos eram os temas recorrentes. Meu sonho recorrente, e distante, era trabalhar no caderno El Viajero, do El País. Cheguei a mandar um email para oferecer freelas. Nunca tive resposta. Amanhã começo no El Viajero, no El País. Realidade. A realidade vem pintada de tons mais ocres, no sonho não temos medo, no sonho não temos dúvida se vamos dar conta do recado, no sonho sei falar e escrever em espanhol perfeito. Se a realidade se aproximar uns 50% do sonho, já é um SONHO, assim, mesmo, em maiúsculas.

Visita!

Pois é, a primeira visita já está na cidade. Cris já passou frio, aproveitou as rebajas, tomou um chocolate quente + churros na chocolateria mais famosa de Madri, de 1800 e bolinha, e provou tapas + cañas em La Latina. Digamos que é um mini-programa-completo de um dia. Hoje amanheceu chuvoso e a viagem para Toledo ficou para outro dia... pena, porque amanhã finalmente começo a trabalhar. Temos que tomar uma cañita para marcar o fim das férias!

Célia, Cris e eu na Plaza Mayor, Madrid, depois de escrever o post acima, antes de irmos para o Museu Reina Sofía.

Salamanca

Final de semana em Salamanca. Ou melhor, depois de um trem perdido e uma volta antecipada para receber a primeira visita, meio final de semana. Viagem em grupo. Sete sudacas descobrindo a cidade. Dizem que tem uma das plazas mais bonitas da Espanha. Eu acredito (fotos em breve, quando eu descobrir como baixar). A previsão era de uma balada forte, alimentada pela grande quantidade de estudantes universitários que vivem na cidade. Nem foi tão forte assim, mas boa. Ainda não me acostumei com a mania de pular de bar em bar durante a noite. Seria fácil se cada vez que se entrasse em algum lugar não fosse uma megaoperação para tirar jaqueta + cachecol + luvas + blusa de lã + blusa. Meia hora depois... lá estamos nós colocando tudo de volta para mudar de bar. E, ao final, eles não voltam para o bar que estava bom! Costumbres, costumbres...




Fim de tarde na Plaza Mayor de Salamanca




E a noite começou em um pub...
Atendendo a pedido para complementar a legenda: da esquerda para a direita Diego (Argentina), Maye (Venezuela), Angelica (Colômbia), Diego (Argentina), Vanessa (México), Rocío (Bolívia) e eu (Brasil). Ps.: sim, são dois Diegos e os dois da Argentina. Eles que dividem apê comingo.

Previsão do tempo

Chove em La Terrazita. E quem disse que nunca chovia em Madri? Em três semanas, duas foram de chuva - e frio, claro. Sete graus lá fora. Já dá para imaginar porque eles festejam em profusão a chegada do verão. Dia de arreglar a casa.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Previsão do tempo

La Terrazita ficou sola hoy. Fez frio e choveu. Oito graus há uma hora atrás. Aulas o dia todo. História da Espanha. Política da Espanha. Mais política da Espanha. Nuvens de expectativa para o trabalho que começa na terça-feira. Pois é, ganhei mais um dia de vacaciones. Previsão de céu aberto na editoria que vão me colocar no El País. Surpresa só se conta quando a notícia se confirma. Mas se confirmar, serei ainda mais feliz que agora, se é que é possível. Boa viagem para todos. Amanhã pego um trem para Salamanca.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Calorias madrileñas que valem a pena

Jamón + queso
Chocolate quente + churros
Tapas + caña (cerveja)

Previsão do tempo

Tempo cinza em La Terrazita. Uns 8 graus, se muito. Misto de medo, alegria e expectativa entre os convivas. Dia de enfurnar-se em um museu, se a pereza deixar. Previsão de tempo aberto logo mais à noite. A famosa festa Erasmus é aguardada com moderada ansiedade.

Da série novas expressões...

BOLUDEANDO: versão argentina para o tradicional matar tempo no trabalho; entrar no Orkut, no MSN e afins enquanto espera algo para fazer, quando está de saco cheio ou enquanto espera o chefe sair.
Na versão brasileira, mais especificamente no Neidoquês (jerga da incomparável e indefectível amiga Neide), FRENANDO.

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Adendo 1: boludear ou frenar é uma arte difundida mundialmente.

Adendo 2: os espanhóis são especialistas em boludear. Das 8 horas de trabalho, umas 5 são dedicadas à frenagem.

Adendo 3: Ah! Bons tempos em que frenávamos compulsivamente pensando que barbaridades aprontar na redação se ganhássemos na Megasena. Minha preferida ainda é o show escatológico entre as mesas no meio da tarde.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Previsão do tempo

Bate sol em La Terrazita. Uns 10 graus. As roupas lavadas no final de semana ainda estendidas. Um café, um cigarro, a leitura agora obrigatória do El País. Um mundo a descobrir lá fora. Museus, feiras, lojas, cafés. Uma semana de vacaciones para isso antes de começar a labuta... mas a preguicinha e o sol que bate em La Terrazita não me deixam sair. Horário: 13h03.

A perda do sarcamo...

Quem me conhece, mesmo, sabe de meu humor negro. Sarcasmo e acidez são meu forte, admito. Não poupa inimigos e menos ainda os amigos. Mas ser sarcástico em outra língua deve requerer anos e anos de prática. Por mais que eu me esforce, por mais que eu tente - juro que já tentei várias vezes -, não rola. Pior, quando saio do limbo das piadas inocentes - essas aparecem com uma frequência vexatória - e consigo dar AQUELA tirada, cheia de toques politicamente incorretos, depreciativa, enfim, humor negro profissional, ninguém entende ou não acha graça. Possibilidade 1: meu espanhol está ruim de doer. Possibilidade 2: é apenas questão de diferente senso de humor. Possibilidade 3: ainda me faltam amigos que me conhecem de verdade. Raios! Estou perdendo a identidade.

Ps.2 da nota abaixo

O primeiro texto foi grande... Os outros serão menores, prometo.

Ps.1 da nota abaixo

Sim, a foto que ilustra o blog é a tal terrazita. Não em toda sua grandeza, é claro.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Em busca da terrazita...

O cheiro indicava que uma velhinha, daquelas bem enrrugadas, com casaco emanando naftalina e um chale de lã meio puído, tinha morado pelos menos um 89 anos ali. Cheiro de velhinha européia, sabe? Aquele misto de água de rosas, mofo, laquê e gato - sim, todas têm um. Odor se disfarça, mas a falta de janelas com alguma vista que não fosse as cuecas do vizinho penduradas no fosso entre os apartamentos, ah!, isso não dava. Para saber se chovia, fazia sol, estava quente ou frio era necessário debruçar-se no quadradinho que eles chamavam de janela, virar de costas e olhar para cima. O burado de 2X2 por onde se via o céu daria a resposta. Nesse momento minhas esperanças de achar um apartamento decente em Madri já estavam esgotadas. Fazia uma semana que eu procurava e nada, nada. A idéia inicial era achar um com uma terraza, um balcãozinho, uma sacadinha que fosse, para perpetuar a tradição de domingos ensolarados acompanhados de café, cigarro e amigos. Mas essa perspectiva eu já tinha abandonado há dias, depois de muito mofo, laquê e gato. Esgotado, cansado, me imaginando dormindo num colchão já com o molde do corpo de uma dessas velhinhas, fui salvo pelos dois argentinos que participam do mesmo programa de bolsas que eu. Pelo celular vi o apartamento que tinham encontrado. Tem janelas para fora em todos os quartos: OK. O banheiro não tem porcelanas que foram moda na década de 30: OK. A cozinha tem até microondas: OK. Tem terraza... O quê? Lá estava ela: beiral de azulejo vermelho, telhadinho verde, vista para a torre da estação Atocha (algo a confirmar ainda), o fim de tarde caindo naquele espaço de 3X4... La Terraza. Depois de uma breve mentira para o dono do apartamento ("No alquilamos para personas que se quedan acá por menos de un año!", dizia algo assim ele), ela era nossa. La terrazita. Lugar para receber os amigos, passar tardes lagarteando, analisando Madri e as experiências que viverei aqui nos próximos meses. Lugar de onde tentarei escrever essas linhas. Sentemos juntos ao sol.